terça-feira, 24 de novembro de 2009

Não percebo nada de Futebol

Depois de um dia de aulas (ou meio, se formos perfeccionistas e contarmos as teóricas), encarneirado no meio da multidão, lá me dirigi para o metro, passei pela cancela que já me tinha recebido de manhã, segui para a passadeira rolante como gado para o matadouro, cheguei à estação de comboios e consegui arranjar um lugar onde não havia gente a bafejar-me o fumo de duvidosa legalidade que é expirado nas estações de comboio por gente de igualmente duvidoso civismo.


Finalmente podia ter aquele momento de vazio cerebral alternado de ideias estúpidas que geralmente nunca chegam a ver a luz do dia (hoje foi a ideia de formar uma banda de rock político com cavaquistas e guterristas eléctricos).
Esse momento foi particularmente curto porque breves momentos após o gentil alapar do meu traseiro no frio, metálico e desconfortável banco da estação, houve um sujeito que se sentou ao pé de mim e me perguntou pelo Benfica.


Ora, há poucas coisas das quais eu percebo menos do que desse viril e patriótico jogo, no qual por vezes se canta o hino com louvores aos nossos "igreijos avós", que é o futebol.


Lentamente rodei o pescoço em direcção ao alusitanado espécime de benfiquista que tinha perto de mim (pobre em altura, rico em largura e bigode) e sem querer fazer o já tradicional franzir de ombros que resulta num olhar de desdém em relação a mim e aos livros que por vezes tenho comigo, como que dizendo: "andas na faculdade então não ligas ao desporto do povo", e decidi tentar colaborar naquele diálogo no qual eu esperava, como é tradicional em conversas deste género, que me bastasse emitir um conjunto de opiniões vagas que seriam o suficiente para permitir ao outro lado brilhar de cultura futebolística (mantendo, sempre, em mente que o último jogo do Benfica que vi tinha o João Pinto como titular).


Ora, estando numa estação ferroviária, encontrando-me eu disperso na altura da abordagem por parte do referido indivíduo e tratando-se do Benfica, foi-me, logo à partida, difícil continuar a conversa sem fazer referência ao Enke. Mas, consegui resistir bravamente ao humor de mau gosto que tantas vezes me deixa em situações embaraçosas e que teve o seu último auge no momento em que comparei o comboio das 8.30 da manhã aos de Auschwitz, acrescentando que qualquer maquinista que efectuasse o transporte das pessoas nessa época se demitiria antes de aceitar fazê-lo naquelas condições - motivo pelo qual não houve resposta à minha reclamação escrita.


Com medo de cometer uma gaffe de proporções Santanescas (quem não souber ao que me refiro, pode clicar no link e ler a resposta à 4ª pergunta, ou melhor, à 3ª pergunta porque há uma que é uma afirmação), como a outrora polémica e agora já mais morna e caricata história dos concertos de Chopin em violino. 
Aproveitando este breve interlúdio, quero, desde já, referir que percebo perfeitamente porque é que Santana não sabia que Chopin não tinha concertos de violino, mas antes pensava que o nome do citado compositor constituía, isso sim, uma ordem a dar às santanetes. 
Eu próprio precisei deste escândalo para descobrir que Chopin não tinha como segundo nome Teresa e não gostava, de facto, de gelados de framboesa. Em compensação descobri que tinha concertos em acordeão.


Retomando a conversa que estava a ter com o referido sujeito, confesso que me estava a sair bem até ele ter subitamente mudado o tema para a religião, sem que eu tivesse apercebido do motivo. Parafraseando o meu recém-conquistado amigo: "é com o Jesus é que nós vamos lá". 
Demorei algum tempo a estabelecer a relação sináptica entre o Jesus a quem ele se referia e o Benfica. E foi então que, como que transsexual a passar pelo meio dos Super Dragões, tive uma epifania e lembrei-me de uma notícia que lera no jornal algures no Verão. Recordo-me de ter lido na capa de um qualquer jornal desportivo a seguinte manchete "Jesus demite-se". Se bem me lembro, na altura fui invadido por um profundo pânico e uma súbita vontade de começar a pilhar, por receio que o fim do mundo estivesse próximo. Como me encontrava numa área de serviço, recordo-me de quase ter pilhado uma caixa de Trident das verdes, mas acabei por pagá-las e acabou por se dar o efeito oposto.


Presumo que durante o tempo em que estive a fazer estas relações sinápticas tenha ficado com um olhar vazio e semelhante ao que faço nas aulas de Direito Processual Civil, pelo que o referido senhor se levantou e se foi embora.


Minutos depois chegou o comboio e depois da costumeira sova que implica a entrada neste em hora de ponta, consegui ter um minuto de paz algures entre a axila do senhor das obras e os espirros da senhora que não quer tirar as mãos dos bolsos. Foi então que ouvi: Então o Bento lá foi a andar ahn? 
E agora, religião ou futebol?




quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Kafka, Blackadder e Genitais


Bordoejando uma pélvica badalada com uma qualquer alcoolizada badocha, dei por mim numa corrente de pensamentos que me desconcentraram da sublime prestação a que acostumo as fulanas que aceitam jogar Twister horizontal comigo.


Aborrecido de meia noite com aquela actividade que nunca deveria ter ocorrido, lembrei-me que a algum momento teria de chegar aquela frase - de utilidade semelhante à de tapar a boca num bocejo no deserto - que, como que mensageiro Kevin Costneriano numa púbica batalha de qualidade semelhante à do filme a que me refiro, surge aquando do (por vezes não tão) magnífico êxtase final. Falo, naturalmente, do "tou-ma vir"


Durante essa breve cogitação tive uma espécie de uma epifania, para adicionar ao pifo com que estava a ficar do bafo a Vilarinho que a minha companheira insistia em soprar na minha direcção, e que consistia basicamente no seguinte: é estou-me a vir ou estou a vir-me?


Bem sei que a pergunta parece básica, uma vez que estamos habituados a ouvir a primeira opção, mais não seja naquelas longas noites de Inverno em que nada mais temos a não ser a perna em cima da mão para aquecer, e um reles filme brasileiro que refere a palavra gostoso mais ou menos o mesmo número de vezes que aquele gajo dos Tachos na Roça.


Porém, como é que poderemos ter a certeza de que as palavras que pronunciamos não são um mero papaguear desse dialecto aportuguesado que é gemido nos filmes a que me refiro? Esta questão revela-se da maior importância, uma vez que qualquer deslize poderá denunciar o gosto (constantemente omitido do sexo oposto) que todo o homem tem pelo subentendido género cinematográfico.


É certo que a pornografia mais recente do Brasil - para aqueles de vós que se contentam com qualquer coisinha - utiliza o verbo gozar. Mas eu não sou desses, especialmente porque gozar soa-me a gozar férias e gozar férias implica necessariamente trabalho, coisa à qual manifesto a mais profunda aversão. Refiro-me ao verdadeiro vintage brasileiro pré-alexandre-frotesco. Aquele que era filmado no tempo em que Lula da Silva era o nome típico dos seus avantajados actores principais.


É de realçar que os pensamentos que partilho convosco agora me estavam todos a passar pela cabeça aquando do genitálico biribambear potencialmente épico que me ocupava na altura.

E foi então que me surgiu na mente (sim, estou deliberadamente a evitar usar o verbo vir) uma célebre frase do Blackadder adaptada: "this is like a broken pencil... pointless". Ora, para aqueles de vós que conhecem o Blackadder, representado pelo Rowan Atkinson (vulgo, Mr. Bean), sabem que não é uma imagem agradável para se ter durante o arrebimbómalho.


Esforcei-me por dirigir os meus pensamentos para outra pessoa que não fosse um bicho, mas depois lembrei-me da Metamorfose do Kafka e do bicho que lá é descrito, o que não ajudou. Depois não consegui parar de pensar no Kafka e no absurdo, então levantei-me e saí janela fora.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nótulas

Ao passar na montra da livraria, não pude deixar de reparar no título de um dos livros que lá estava: Nótulas de DIP.
Pergunto-me se dará para pagar em moédulas.